quinta-feira, 2 de abril de 2009

cantiga de embalar

Ouviu-o, um som que não sabe descrever, porque não o conhece.

Levantou-se, num flash, já pegava nele gentilmente, deitou-o sobre os seus braços, enquanto o embalava entoando a cantiga.

"Quando eu era pequenina
Quando eu era pequenina
Acabada de nascer
Acabada de nascer
Ainda mal abria os olhos
Ainda mal abria os olhos
Já eram para te ver
Acabada de nascer

E quando eu já for velhinha
E quando eu já for velhinha
Acabada de morrer
Acabada de morrer
Olha bem para os meus olhos
Olha bem para os meus olhos
Sem vida hão de te ver
Acabada de morrer

lararara larararara lararara
larararara lararara lararara"
...


Ainda consegue ouvi-la, a melodia calma, repetitiva, infinita...

Sentada na cadeira de baloiço, com suavidade baloiçava no mesmo ritmo "lararara larararara lararara larararara lararara lararara... " um mini bocejo, e logo; logo adormeceu no seu soninho.

Ela continuou a trautear e a embalar, tinha o seu pequenino nos seus braços. Não ia perder, nem por um segundo todo e qualquer movimento, captava na essência aquela imagem da mãe na cadeira de baloiço a embalar o seu flho.

Não consegue descrevê-lo, nem vizualizá-lo, era perfeito; recorda os pormenores das mãozinhas, os dedinhos pequeninos, todo ele por inteiro corporizava a expressão 'Milagre da Vida'.

Suspirou, transpirava calma, tranquilidade, paz; ele apertava com a força da sua mãozinha o dedo dela, o rosto dela iluminado num esboço de felicidade.

Tocou o despertador.

Enquanto tomava o seu duche cantou.

No trabalho, todo o dia trauteou a melodia.

De regresso a casa, olhava pelo vidro do carro e recordou a letra.

Maldita e encantadora melodia, que todo o dia a perseguira...

Ao deitar-se adormeceu, embalada naquelas notas.

E sonhou, as claves de sol sorriam-lhe e ondulavam, sobre as linhas de uma pauta.


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