-"Entre, por favor e tire o casaco."
Estava semi-adormecida, desfez-se do casaco para cima de uma espécie de maca, subiu à balança, desceu e tiraram-lhe a medida da cintura.
-"que idade tem?"
-"30."
- "já alguma vez abortou?"
- "não."
- "já alguma vez esteve grávida?"
- "não."
- (...)
-"espere um bocadinho que o Dr. já os chama."
Eram cerca de 8h30 da manhã, chegaram ao Hospital por volta das 7h15m, Ele comentou com Ela: "Secalhar ainda chegas ao trabalho a tempo."
Entre o tempo de espera, a consulta com a constatação do óbvio, inscrição numa lista de espera num documento .xls com mais de 58 páginas, mais umas análises ao sangue para ambos e marcação de exames,... Ela chegou ao trabalho às 13h em ponto.
No entanto, nada comparado com os dois anos de espera até à ICSI* (Injecção Intra-Citoplasmática de Espermatozoides).
Talvez consigam engravidar antes, talvez o tempo de espera baixe, há fortes prababilidades, afinal e de acordo com o médico é ano de eleições.
Foi numa salinha de espera no Piso 01, para lá ir ter descem-se umas escadinhas, foram dos primeiros a chegar, em meia hora formou-se uma fila até ao fundo do corredor.
Alguns casais trocavam entre si sorrisos cumplices, encostos, olhares de aceitação e esperança.
Para a 1ª consulta vão os dois, depois podem passar a ir Elas sózinhas.
Estavam lá bastantes sózinhas, não partilhavam o ar de desorientação dos casais a inteirarem-se do funcionamento do espaço.
Aguardavam pacientemente a sua vez, com um ar cómodo de quem sabe ao que foi, porque foi e já não tem pressa.
Num placard de cortiça pregadas com pins, sobrepunham-se várias imagens de bebés, meninos, meninas, gêmeos (até tri-gêmeos!) algumas com mensagens de agradecimento.
Ela focou-se no placard, quando se lembrar daquela sala e daquela manhã, vai-se lembrar das imagens de crianças e mensagens felizes, não quer pensar nos rostos apáticos, nos sorrisos tristes, nos olhos delas cheios de lágrimas, quando saíam da salinha de pesagem após o 1º questionário...
Olhou para Ele, apertou-lhe a mão, reconfortada encostou a cabeça no seu ombro e pensou: "Espero nunca ter de vir sózinha...".
* GLOSSÁRIO
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
ainda não é desta...
Graças ao cansaço, hoje quase não houve reacção, sentiu uma desilusão conformada, o constatar de um facto: "Mais um mês... "
"Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos..."
"Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos..."
domingo, 1 de fevereiro de 2009
...há 16 meses
E nada...
Há medida que os meses passam, mais um ciclo e nada!
Só lágrimas, cada vez que lhe aparece o período, só chora...
Acaba-se a esperança, não há nada a ganhar vida naquela barriga... Dois, três, quatro dias com os olhos em tempestades e cheias.
Chega a bonança, Ela inspira: "Vai ser desta! Falta pouco para a ovulação."
Depois espera-se, não se pensa muito nisso, para não criar falsas expectativas.
-"Tem calminha contigo, que já sofreste muito o mês passado."
Depois das duas, uma:
- 24 dias e lá vem ele, com dores e indesejado;
- 24 dias, 25 dias, 26 dias, 27 dias... Ela não aguenta mais, vai à farmácia, o teste dá negativo e passada uma hipotética meia-hora lá vem ele... A culpada é a ansiedade, Ela chega ao ponto de fazer os testes, sabendo no fundo do seu intimo que vão dar negativo, só para descer o período e concluir o ciclo.
Há um restinho de esperança, aquela esperança que se tem quando se ama, quando se anseia tanto que ainda não, ainda não se pode desistir.
Secalhar é azar, contas mal feitas, Ela tem de descontrair, é o que todos dizem:
- "Descontrai e não penses mais nisso, vai acontecer quando menos esperas."
- "Secalhar, já não espero, não sei... E se não tiver destinado?"
Um arranque de força:
- "Destinamos nós!"
Positividade e amor, Ele e Ela juntos, unidos, em sintonia, são um só, são felizes por se terem um ao outro. "Amar é a eterna inocência, E a única inocência é não pensar..."
Logo, 25, 26, 27, ... e começa tudo outra vez.
Há medida que os meses passam, mais um ciclo e nada!
Só lágrimas, cada vez que lhe aparece o período, só chora...
Acaba-se a esperança, não há nada a ganhar vida naquela barriga... Dois, três, quatro dias com os olhos em tempestades e cheias.
Chega a bonança, Ela inspira: "Vai ser desta! Falta pouco para a ovulação."
Depois espera-se, não se pensa muito nisso, para não criar falsas expectativas.
-"Tem calminha contigo, que já sofreste muito o mês passado."
Depois das duas, uma:
- 24 dias e lá vem ele, com dores e indesejado;
- 24 dias, 25 dias, 26 dias, 27 dias... Ela não aguenta mais, vai à farmácia, o teste dá negativo e passada uma hipotética meia-hora lá vem ele... A culpada é a ansiedade, Ela chega ao ponto de fazer os testes, sabendo no fundo do seu intimo que vão dar negativo, só para descer o período e concluir o ciclo.
Há um restinho de esperança, aquela esperança que se tem quando se ama, quando se anseia tanto que ainda não, ainda não se pode desistir.
Secalhar é azar, contas mal feitas, Ela tem de descontrair, é o que todos dizem:
- "Descontrai e não penses mais nisso, vai acontecer quando menos esperas."
- "Secalhar, já não espero, não sei... E se não tiver destinado?"
Um arranque de força:
- "Destinamos nós!"
Positividade e amor, Ele e Ela juntos, unidos, em sintonia, são um só, são felizes por se terem um ao outro. "Amar é a eterna inocência, E a única inocência é não pensar..."
Logo, 25, 26, 27, ... e começa tudo outra vez.
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